O dia das Mães é uma data muito especial: é o dia
em que reverenciamos aquela que nos gerou em seu ventre e nos trouxe à vida. É
o dia em que podemos olhar para todas as mães e reconhecer, nelas, a mediação
entre o Deus e o ser humano. Se Deus cria, é a mulher que acolhe a semente da
criação em seu ser, trazendo-a ao mundo. É o dia também que podemos ser gratos
pelo dom de estarmos vivos. Daí a importância do princípio bíblico que nos
orienta “honrar pai e mãe”, independente de cada pai e mãe. Afinal, sem eles,
não receberíamos o dom da vida.
Apesar de tamanha importância, seu sentido vem
sendo banalizado. Pensamos mais nos presentes e festa que a sociedade
capitalista nos impõe, do que propriamente no sentido desta relação. O
capitalismo tem esta característica: colocar todas as relações dentro de grande
mercado global, mediado sempre pelo dinheiro e lucro.
Aliás, é este sistema também nos traz outros
prejuízos: colocar o dinheiro e o lucro no centro da vida, e colocar o ser
humano à margem. Rompeu-se com a visão sagrada da vida, que nossos ancestrais
possuíam. Se a vida não é sagrada – pensamos -, não precisamos ter cuidado com
nada. Tudo o que está aí existe para ser usado, para ser explorado. E assim,
com a perda destes princípios – do sagrado e do cuidado -, perdemos o sentido
da importância das mães, o sentido da importância do cuidado com a Terra e
todas as formas de vida. Mas as mães são as guardiãs do cuidado e do sagrado.
Nas sociedades antigas, onde a dimensão de sagrado
e de cuidado eram princípios fundamentais, a mulher era muito respeitada e
reverenciada, por ser esta guardiã da vida. Por isso, também, as civilizações
antiga aprenderam a reverenciar a Terra, este planeta onde vivemos, como uma
mulher fértil e reprodutora, como um princípio feminino. “Pacha Mama” ou “Mãe
Terra” é a deusa dos povos máxima dos povos andinos (Peru, Bolívia, parte da
Argentina e Chile). É a deusa que produz abundantemente e que possibilita a vida
de tudo o que existe. “Gaia” para os povos gregos, também é a deusa da Terra, a
“Mãe Terra”.
Com a Modernidade, perdemos estes sentidos. Vivemos
em uma crise de relações, nunca antes vista. Perdemos a dimensão de cuidado,
conosco mesmo, com o outro, com nossos pais, com a natureza, com a Terra, com
aqueles que precisam. Com isso, não sabemos quem somos e como nos relacionamos
numa dada relação. Desvalorizamos os pais, os professores, a Terra, as fontes
sagradas da vida. Estamos adoecendo, aprendendo a ser violentos, perdendo o
sentido das coisas.
Nossa tarefa neste momento é bem desafiante.
Precisamos deixar os presentes e as festas de lado, e pensarmos nestes sentidos
perdidos. Os antigos aprenderam a abençoar os filhos. Os filhos, por sua vez,
pediam a bênção aos pais. Tal prática, tão desvalorizada, tinha uma força
espiritual incrível. Os pais, ao abençoarem, colocavam-se como os mediadores
entre Deus e o humano. Traziam a força desta presença sagrada em suas palavras.
Os filhos, ao pedi-las, invocavam a presença divina através dos pais. Um elo
espiritual muito forte ligava pais e filhos, numa relação sagrada de cuidado.
Mas achamos que isto era antigo, era “cafona”, era desnecessário. Quisemos uma
relação mais moderna, de pais e filhos que são colegas, que são próximos, que
são iguais. E deixamos de lado uma prática ancestral espiritual muito poderosa.
O que há de mais importante no mundo de hoje,
marcado por tantas contradições, ameaças, perigos e violências, do que uma
bênção, um “bendizer” espiritual, um desejo benigno para outra pessoa, a
invocação do amor de Deus, palavra esta que nos recorda a importância do que
somos e de onde viemos?
Repensar nosso modo de ser e de se relacionar,
voltar a reverenciar a mãe, a Terra, a natureza e todas as relações sagradas, é
o presente que desejamos a cada mãe, e a cada pessoa, neste dia tão especial!
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